Neste tributo à liberdade, sirvo-me da pedra e do meu trabalho escultórico para representar a força
colaborativa como ascensão ao estado de “ser livre”.
O contexto de celebração dos 50 anos do 25 de abril serve como alavanca para reforçar a ideia
fundamental de que para criarmos temos de ser livres e de que, para sermos livres, temos de nos sustentar uns nos outros. Cada forma oval desta pedra calcária e mármore nasce como a unidade que só pode existir na interação e na relação com as demais unidades, numa espécie de “gestaltismo” escultórico.
Enquanto na primeira peça as unidades se relacionam formando uma coluna mais estática e compacta, imprimindo a ideia de interdependência e apoio, a segunda peça surge com um dinamismo e uma
idiossincrasia que enaltecem o papel da entreajuda para a possibilidade de “voar” e de ser livre.
Formando-se, no seu todo, com base na narrativa do passado, presente e futuro, esta peça veste o mesmo significado histórico do 25 de abril. Os fragmentos que surgem da água e que culminam, juntos, para um ponto que representa uma coluna sólida e sustentada, podem depois soltar-se e seguir, livremente, outras direções. Neste processo evolutivo, está também contida a história duma nação que viu a possibilidade de se libertar dos ditames salazaristas através da união, espírito cooperativo e entreajuda.
Da gritante vontade coletiva de ser livre para existir e criar, formou-se uma plataforma colaborativa que culminou no apogeu da revolução do 25 de abril.
Da “insustentável leveza” de ser escultora, sirvo-me das minhas mãos e apoio-me nas minhas máquinas, mas não imagino um processo criativo que não tivesse origem no contexto da liberdade do pensamento
e da expressão.
Texto por Margarida Pimenta
2024
I 47 x 60 x 34 cm II 65 x 85 x 40 cm
Mármore e calcário
LocalARTE - Centro Cultural de Lagos